142. (ESPECIAL OSCAR 2013) AS AVENTURAS DE PI, de Ang Lee

O ratrato da superação, da determinação da fé e da esperança em um dos melhores filmes do ano.

Nota: 9,7

Título Original: Life of Pi

Direção: Ang Lee

Elenco: Suraj Sharma, Irrfan Khan, Ayush Tandon, Gautan Belur, Rafe Spall, Gérard Depardieu, Adil Hussain, Tabu, Ayan Khan, Mohd Abbas Khaleeli, Vibish Sivakumar, Andrea Di Stefano

Produção: Ang Lee, Gil Netter, David Womark

Roteiro: David Magee e Yann Martel (romance)

Ano: 2012

Duração: 127 min.

Gênero: Drama / Comédia

Quando mais jovem o pai de Piscine Molitor Patel conheceu um homem que lhe disse que a piscina de um hotel em Paris era a mais perfeita e límpida que vira na vida. Para que seu filho tivesse a alma tão límpida quanto a tal piscina, Santosh Patel colocou o nome dela em seu filho. É claro que isso gerou uma série de problemas para o garoto, que acabou contornando a situação de forma inacreditável e passou a ser apenas Pi. No entanto, o que ele não imaginava era que sua vida pacata sendo criado em meio a um zoológico se tornaria uma verdadeira catástrofe: o pai de Pi decide que ele e sua família (Pi, seu irmão mais velho e a mãe) vão para a América para vender os animais do zoológico e tentar uma vida melhor. Todavia, no meio do caminho, o navio em que eles estão afunda e sobram apenas dois sobreviventes: Pi e Richard Parker, o tigre bengala do zoo.

Quando era criança lembro-me de ficar fascinado com os efeitos e a história de “O Tigre e o Dragão” (2000), no começo da adolescência criei uma imesa admiração pela escritora Jane Austen e a primeira adaptação de seus livros para o cinema que assisti foi “Razão e Sensibilidade” (1995), por volta dos quinze anos decidi que meu futuro profissional estava na sétima arte e, de forma mais profissional e sem preconceito algum, apenas analisando de forma técnica, assisti a “O Segredo de Brokeback Mountain” e me surpreendi com a forma como o diretor abordou um assunto ainda tão polêmico de forma tão natural e aberta. Nesse contexto, é inevitável confirmar: Ang Lee é um dos diretores responsáveis pelo surgimento de minha paixão pelo cinema. Logo que assisti ao trailer do filme nem reparei no nome de Ang Lee como realizador, muito menos me flagrei de que era esse o filme que ele estava lançando. Quando li que ele era o diretor do longa, esperei ansiosamente pela estréia e, finalmente, consegui conferir mais um trabalho do mestre.

Confesso que esperava apenas pela aventura de Pi e do tal tigre, mas considerando o título original é compreensível que nos seja apresentada a vida toda do rapaz. Além disso, é necessário deixar claro que sim, os primeiros trinta ou quarenta minutos são super monótonos, mas nada que não seja esquecido com o desenrolar da trama. Isso, por que é quando começa a verdadeira aventura de Pi  e vemos ora a vontade de sobreviver, ora a vontade de se entregar para o oceano e deixar que os Deuses levem sua vida, e , sobretudo, assistimos a relação entre Pi e Richard Parker – o qeu se torna algo maravilhoso. Apesar de não termos a certeza das veracidades dos fatos, afinal o cara acabou de perder a família e se vê no meio do nada sem saber o que fazer, a história é realmente tocante e não há como não rir ou ao menos quase chorar com tudo o que o garoto passa. Acrescente a isso, apesar de sabermos que ele ficará vivo, não há como não ficarmos aflitos, pois não sabemos como isso ou aquilo irá acontecer. Até mesmo o ponto religioso, que gera uma área de desconforto, acaba sendo bem vindo, isso porque o protagonista conhece várias religiões durante o filme, o que faz com que, de alguma forma, nos identificamos com uma ou mais delas. Outro ponto forte do filme é a veracidade com a qual Richard Parker foi criado, obviamente é impossível trazer um tigre devidamente treinado e obrigar um ator a ficar com ele dentro de um bote salva vidas que está dentro da água, e é aí que o trabalho da equipe de criação é tão minucioso, sabemos, mesmo que não tenhamos lido nada sobre o filme, que o tigre não pode ser real, por motivos óbvios, mas nos negamos a acreditar nisso, pois seus movimentos são tão perfeitos e lembram tão bem os felinos e o desespero do protagonista é tão real que faz tudo parecer muito real. Segundo o próprio Suraj Sharma, que da vida a Pi Patel, em alguns momentos ele estava lutando com o ar enquanto segurava uma lança, em outros era um ator que estava em sua frente imitando os movimentos de um tigre.

Mesmo que o filme como um todo tenha sido uma grande surpresa para mim, acredito que o que mais tenha me surpreendido tenha sido a atuação excelente de Sharma, pois, até mesmo após assistir aos trailers do longa e conferindo que essa foi sua primeira atuação, não acreditava em todo o seu talento, mas esperava por algo digno, afinal, não podia ser qualquer um o escolhido de Ang Lee para viver o protagonista de seu filme. Enfim, voltando a atuação de Sharma, apesar de ele não ter enfrentado, realmente, um tigre de bengala, a forma como ele demonstra as decisões da personagem (ficar e continuar a tentar viver, deixar com que o mar o engula e morrer de uma vez, enfrentar o tigre, deixar com que o tigre tome conta de toda a situação) é uma forma simples, por vezes infantil (ele é um adolescente), debochada (ele é um adolescente), imprudentes (ele é, decididamente, um adolescente) e, acima de tudo, tão real que chega a nos emocionar quando ele relembra tudo o que deixou para trás e, especialmente, como está sozinho no mundo sem os pais ou o irmão. Para viver Pi adulto, foi escolhido o nada inexperiente Irrfan Khan, apesar de ter cenas bem mais curtas que Sharma, é seu o papel de contar a história a um escritor que se sente fracassado e deseja transformar a vida de Pi em um livro, dessa forma, Khan carrega mais ainda o filme de emoção e deixa claro, bem no desfecho que, apesar dos problemas, não há arrependimentos, muito menos rancores sobre seu passado ou sobre os Deuses nos quais ele acredita.

Em “As Aventuras de Pi”o que mais vemos são símbolos de nossa existência, é como se, no final das contas, o longa não passasse de um filme de auto-ajuda travestido de aventura dramática. Pi é um ser humano como outro qualquer, cheio de sentimentos, dúvidas, medos e desejos; o pai do jovem é a representação das pessoas mais velhas que prezam por nosso futuro e querem nos ensinar da forma que traga um real aprendizado; a mãe de Pi parece mais a representação de uma das Deusas hindu que uma mãe, mas também, qual mãe não se parece mais uma Deusa que uma mãe?; a jovem por quem Pi se apaixona é aquele primeiro amor que todos temos e nos deixa sem saber o que fazer; o cozinheiro vivido por Gérard Depardieu é aquele tipo asqueroso que todos encontramos na vida; os animais do zoológico se tornam os vários amigos de Pi quando ele vê todos morrendo; por fim, Richard Parker é a representação de todos os medos que sentimos, medo da morte, do escuro, de outros animais, medo da própria vida, das escolhas, dos desejos dos finais que jamais podemos saber se serão felizes, tristes ou apenas serão, o tigre de bengala é a representação de tudo isso, mas também, quando chega o momento em que sua alma e a de Pi se encontram ele acaba se tornando tudo na vida de Pi, algo pelo qual vale a pena viver, alguém em quem confiar, alguém para amar, ou simplesmente, alguma desculpa para não deixar toda sua força de vontade ser mostrada, toda sua esperança e fé em cada Deus em que ele acredita, alguma desculpa para continuar vivo e lutar.

Indicações ao Oscar:

Melhor Filme;

Melhor Direção – Ang Lee

Melhor Roteiro Adaptado;

Melhor Direção de Arte;

Melhor Trilha Sonora;

Melhor Canção – “Pi’s Lullaby”;

Melhor Fotografia;

Melhor Montagem;

Melhor Mixagem de Som;

Melhor Edição de Som;

Melhor Efeitos Especiais.

O filme possuí chances maiores nas categorias técnicas (principalmente em Direção de Arte, Montagem e Edição de Som), apesar do longa “Lincoln” e Steven Spielberg serem os favoritos para melhor filme e direção, “As Aventuras de Pi” e Ang Lee são os maiores concorrentes nas categorias.

INDICADOS ACADEMY AWARDS – OSCAR 2013

Melhor Filme
Amor (5 Indicações)
Argo (7 Indicações)
Indomável Sonhadora (4 Indicações)
Django Livre (5 Indicações)
Os Miseráveis (7 Indicações)
As Aventuras de Pi (11 Indicações)
Lincoln (12 Indicações)
O Lado Bom da Vida (8 Indicações)
A Hora Mais Escura (5 Indicações)

Comentários: a exclusão de “O Mestre” e a inclusão de “Indomável Sonhadora” em quatro categorias foram as surpresas da categoria. Além disso, é impossível não apontar a exclusão total do longa “O Exótico Hotel Marigold”. Também faltou “007 – Skyfall” e “O Hobbit”. Os favoritos são “Amor”, “As Aventuras de Pi”, “Lincoln” e “A Hora Mais Escura”. Por enquanto torço para “Pi”, mas foi o único que assisti dos quatro, devo lembrar que Lincoln é um dos maiores nomes da história dos EUA, sendo o grande favorito. O azarão do ano pode ser “O Lado Bom da Vida”, suas 8 indicações apontam uma diferenciação na proposta da academia nas indicações. Grande parte dos filmes possuem tons políticos, e todos são muito reflexivos, cada um a sua maneira.

Melhor Diretor
Michael Haneke – Amor
Ang Lee – As Aventuras de Pi
David O. Russell – O Lado Bom da Vida
Steven Spielberg – Lincoln
Benh Zeitlin – Indomável Sonhadora

Comentários: a exclusão de Kathyrin Bigelow, Quentin Tarantino e Tom Hooper foi uma surpresa, bem como as indicações de David O. Russell e Benh Zeitlin

Melhor Ator
Daniel Day-Lewis – Lincoln
Joaquim Phoenix – O Mestre
Hugh Jackman – Os Miseráveis
Denzel Washington – O Voo
Bradley Cooper – O Lado Bom da Vida

Comentários: a única surpresa (que já era esperada por alguns) foi a indicação de Joaquim Phoenix.

Melhor Atriz
Jessica Chastain – A Hora Mais Escura
Jennifer Lawrence – O Lado Bom da Vida
Emmanuelle Riva – Amor
Quvenzhané Wallis – Indomável Sonhadora
Naomi Watts – O Impossível

Comentários: a grande surpresa foi a indicação de Quvenzhané Wallis, uma negra de 9 anos de idade, a pessoa mais jovem na categoria na história do Oscar. A exclusão de Marion Cotillard me deixou decepcionado. Emmanuelle Riva é a mulher mais velha a ser indicada: 84 anos.

Melhor Ator Coadjuvante
Alan Arkin – Argo
Robert De Niro – O Lado Bom da Vida
Philip Seymour Hoffman – O Mestre
Tommy Lee Jones – Lincoln
Christoph Waltz – Django Livre

Comentários: Apesar de gostar de Robert De Niro não acreditava em sua indicação esse ano, em contraposição gostaria de ver Leonardo Di Caprio.

Melhor Atriz Coadjuvante
Amy Adams – O Mestre
Sally Field – Lincoln
Anne Hathaway – Os Miseráveis
Helen Hunt – As Sessões
Jacki Weaver – O Lado Bom da Vida

Cometários: A surpresa foi Jacki Weaver, esperava Maggie Smith ou Judi Dench na categoria.

Melhor Animação
Valente
Frankenweenie
ParaNorman
Piratas Pirados!
Detona Ralph

Comentários: a falta de “Hotel Transilvânia” foi sentida, mas os principais concorrentes (“Valente”, “Frankenweenie” e “Detona Ralph”) não deixa especo para mais ninguém.

Melhor Filme em Lingua Estrangeira
Amor
Rebelle
No
O Amante da Rainha
Kon-Tiki

Comentários: não há como alguém levar o prêmio que não seja “Amor”.

Melhor Roteiro Adaptado
Argo
Indomável Sonhadora
As Aventuras de Pi
Lincoln
O Lado Bom da Vida

Comentários: todos os roteiros são excelentes, a disputa será uma incógnita até o dia da premiação.

Melhor Roteiro original
Amor
Django Livre
O Voo
Moonrise Kingdom
A Hora Mais Escura

Comentários: acredito que Amor vá surpeender como um dos melhor filmes do ano.

Melhor Direção de Arte
Anna Karenina
O Hobbit – Uma Jornada Inesperada
Os Miseráveis
As Aventuras de Pi
Lincoln

Comentários: se “O Hobbit” for ganhar algum prêmio, é bom que seja esse.

Melhor Figurino
Anna Karenina
Os Miseráveis
Lincoln
Espelho, Espelho Meu
Branca de Neve e o Caçador

Comentários: “Os Miseráveis” tem tudo para vencer, mas “Anna Karenina” apela pela beleza de cores e “ponposidade”.

Melhor Maquiagem
Hitchcock
O Hobbit – Uma Jornada Inesperada
Os Miseráveis

Comentários: torço por “Hitchcock”, e aqui aproveito para fazer um desabafo: uma indicação ao Oscar, apenas uma??? Não acredito que o filme possa ser tão ruim, uma verdadeira lástima. Mas ainda desconfio do preconceito contra Hitch ter sido uma campanha contra o longa.

Melhor Trilha Sonora
Anna Karenina – Dario Marianelli
Argo – Alexander Desplat
As Aventuras de Pi – Michael Danna
Lincoln – John Williams
007 – Operação Skyfall – Thomas Newman

Comentários: “007” sempre foi um ignorado na premiação da academia, fico feliz que tenha essa indicação, além disso vale lembrar que são 5 indicações para o filme de Sam Mendes. Categoria difícil de escolher um vencedor, mas acredito que John Williams vença novamente.

Melhor Canção Original
“Before My Time” – Chasing Ice
“Suddenly” – Os Miseráveis
“Pi’s Lullaby” – As Aventuras de Pi
“Skyfall” – 007 – Operação Skyfall
“Everybody Needs a Best Friend” – Ted

Comentários: Torço para “Skyfall”, mas confesso que ouvi apenas duas canções das indicadas.

Melhor Fotografia
Anna Karenina
Django Livre
As Aventuras de Pi
Lincoln
007 – Operação Skyfall

Comentários: Torço para “Pi”, mas acredito que vá para Lincoln

Melhor Montagem
Argo
As Aventuras de Pi
Lincoln
O Lado Bom da Vida
A Hora Mais Escura

Comentários: acredito que esse vá para “As Aventuras de Pi”.

Melhor Edição de som
Argo
Django Livre
As Aventuras de Pi
007 – Operação Skyfall
A Hora Mais Escura

Comentários: Outra categoria de peso, mas espero que “007”leve, pois acredito ser a única categoria que consiga.

Melhor Mixagem de som
Argo
Os Miseráveis
As Aventuras de Pi
Lincoln
007 – Operação Skyfall

Comentários: “Os Miseráveis” é um musical, então...

Melhor Efeitos especiais
Os Vingadores
O Hobbit: Uma Jornada Inesperada
As Aventuras de Pi
Prometheus
Branca de Neve e o Caçador

Comentários: Surpreendente “Branca de Neve e o Caçador” possuí duas indicações ao Oscar, mas acredito que não ganhe nenhuma. “O Hobbit” e “PI” são os favoritos.

Melhor Documentário
5 Broken Cameras
The Gatekeepers
How to Survive a Plague
The Invisible War
Searching for Sugar Man

Melhor Documentário em Curta-Metragem
Inocente
Kings Point
Mondays at Racine
Open Heart
Redemption

Melhor Curta-metragem de animação
Adam and Dog
Fresh Guacamole
Head Over Heels
Paperman
The Simpsons: The Longest Daycare

Melhor Curta-metragem
Asad
Buzkashi Boys
Curfew
Dood van een Schaduw
Henry

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