quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

148. O BEIJO NO ASFALTO, de Bruno Barreto


Dessa vez, um soco no estômago à moda brasileira.
Nota; 8,8


Título Original: O Beijo no Asfalto
Direção: Bruno Barreto
Elenco: Ney Latorraca, Christiane Torloni, Lídia Brondi, Tarcísio Meira Oswaldo Loureiro, Daniel Filho
Produção: Fábio Barreto e Luiz Carlos Barreto
Roteiro: Doc Comparato e Nelson Rodrigues (teatro)
Ano: 1981
Duração: 80 min.
Gênero: Drama

Enquanto Arandir e seu sogro, Aprígio, estão passando por uma avenida, um homem é atropelado e, em seu leito de morte, é socorrido por Arandir, do qual o moribundo pede um beijo na boca. Arandir, comovido com o último pedido do homem, o beija na boca na frente de todos. Um jornalista que passava pelo local vê tudo, tira fotos, toma nota do nome dos envolvidos e, logo no outro dia, com a ajuda do delegado Cunha, todos ficam sabendo do ocorrido. Apesar de sempre ter sido um marido maravilhoso, até a esposa de Arandir, Selminha, acaba desconfiando da sexualidade do marido. Assim sendo, a confusão está armada, pois se a esposa desconfia, imagine o restante do povo.


As histórias escritas por Nelson Rodrigues ficaram conhecidas mais por sua excentricidade que pela qualidade ou criatividade, não que ele não fosse um mestre no que escrevia, mas a forma despudorada com a qual tratava e criticava os hábitos da sociedade era mais agressiva, pois ele parecia não se importar com as opiniões alheias, muito menos com o conservadorismo. Nessa peça, por exemplo, Rodrigues trás uma história verídica um pouco adaptada: na realidade, foi um homem atropelado a pedir um beijo de uma mulher, e não de outro homem. Não é preciso dizer que a sociedade brasileira da época achou tudo aquilo um absurdo, e quando foi feita a adaptação da peça para o cinema não foi diferente – ou melhor, foi pior. No filme já podemos observar a reação de algumas pessoas próximas a Arandir (como a esposa e alguns vizinhos) que desconfiam dele e chegam a dizer que viram o morto rondando a rua à procura de Arandir semanas antes do acontecido; além deles, temos os colegas de trabalho, que agem da mesma forma que os vizinhos; e pior: a própria viúva, com medo que descubram que ela mesma tinha um amante, chega a dizer que certa vez viu Arandir em sua casa, tomando banho com o marido. É claro que todos esses desentendimentos são ocasionados pelos maiores criticados de Nelson Rodrigues nessa história: os jornalistas. Representados por Amando Ribeiro, os jornalistas são vistos como pessoas malignas que não medem esforços para que possam conseguir as notícias que desejam. O problema técnico do filme acaba sendo a forma amadora com qual todo ele foi realizado, em pleno início da década de 1980, momento em que as produções que tratavam de temas sociais estavam sendo tão bem realizadas no restante do mundo, chega a ser inaceitável como o Brasil peca em reunir um elenco de peso para um enredo ótimo, esquecendo-se de crucialidades como fotografia, edição de imagem e edição de som.


Ney Latorraca interpretou Arandir nos cinemas de forma simples e bem natural, características essenciais para que se interprete uma personagem popular brasileira, além disso, é fantástico ver as confusões da personagem que parece já não estar mais encontrando o seu eu interior, chegando a ter dúvidas, que, obviamente, surgem a partir da desconfiança alheia. Tarsísio Meira, por outro lado, vive um homem mais rígido, que insiste para a filha que o marido resolveu assumir suas reais preferências – o que denota uma paixão incestuosa – acrescente a isso, suas expressões nunca deixam transparecer nada e parece que ele guarda muitos segredos acerca de sua própria vida. É ótimo assistir a Christiane Torloni jovem interpretando a esposa Selminha, que, apesar de sempre dizer que o marido é “macho, muito macho” – ressaltando que ele não quer que ela engravide para que o ritmo sexual deles não diminua – começa a estranhar tudo o que está acontecendo e já não sabe o que fazer. A irmã de Selminha, Dália, é interpretada por Lídia Brondi, mesmo que tente lutar contra seus sentimentos, a jovem está apaixonada pelo cunhado – aqui fica a dica: não leve sua irmã para morar em sua casa e de seu marido – Brondi é um pouco chata no filme, e acaba sendo ofuscada por Torloni. Por fim, temos os pilantras Amado Ribeiro, interpretado por Daniel Filho, e o delegado Cunha vivido por Oswaldo Loureiro, costumo dizer que quando atores nos fazem nos apaixonar, enojar ou admirar vilões, é porque eles atingiram seus objetivos, esses nos fazem ter asco de cada atitude de suas personagens, portanto, eles acertam em cheio.


Ao meu ver, existem dois assuntos muitos polêmicos tratados, e criticados, por Nelson Rodrigues nessa peça: o preconceito contra homossexuais (além da mania popular de pré-julgar esse ou aquele por essa ou aquela atitude, no caso o beijo) e a forma ridícula e sem limites com a qual a imprensa detêm o poder de transformar, e arruinar, vidas contando mentiras ou distorcendo os fato de qualquer acontecimento. Além disso, as dúvidas acerca da sexualidade de Arandir não rondam apenas as outras personagens, e sim ele mesmo. Será que Arandir beijou o moribundo por compaixão, ou um desejo homossexual louco tomou conta de seu corpo e ele não resistiu? Ou ele, simplesmente, sentiu remorso ao ver um homem fazendo seu último pedido e teve de atender sem contestar? Será que Arandir é só mais um tarado que não perde uma oportunidade, ou será que o mundo precisa de homens mais gentis, compreensíveis que possam tratar toda a humanidade como verdadeiros seres humanos, que merecem o que desejam (se fizerem por merecer) até seu último suspiro? Quem está certo afinal? Afinal, como já levantei em outras críticas, que decide o que é certo e o que é errado?


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