Wes Anderson mostra como sua loucura ainda
traz grandes trabalho
Nota: 9,0
Título Original: Moonrise Kingdom
Direção: Wes Anderson
Elenco: Bruce Willis, Edward Norton, Bill Murray, Frances McDormand,
Tilda Swinton, Jared Gilman, Kara Hayward
Produção: Wes Anderson, Jaremy Dawson, Stevem Rales, Scott Rudin
Roteiro: Wes Anderson e Roman Coppola
Ano: 2012
Duração: 94 min.
Gênero: Comédia / Drama
Sam é um garoto adotado e um completo
excluído no acampamento de escoteiros que frequenta; Suzy é uma jovem que não
tem absolutamente nada em comum com sua família e não aguenta mais ver a mãe
traindo o pai. O que os dois tem em comum? Muito. Por começar seus simples 12
anos de vida, a incompreensão perante muitos fatos da sociedade, a vontade de
fugir e deixar tudo para trás e viverem na costa de Moonrise Kingdon na Nova
Inglaterra. Tendo em vista toda essa vida catastrófica de ambos, eles acabam se
conhecendo e resolvem fugir juntos. O que eles não esperavam é que essa fuga
mobilizaria toda a pequena cidade em que vivem.
Wes Anderson é um dos diretores mais
controversos do cinema moderno, dentre seus principais títulos estão: “Três é
Demais” (1998), “Os Excêntricos Tenenbauns” (2001) e “O Fantástico Sr. Raposo”.
Apesar de “Moonrise Kingdon” parecer uma história idiota sobre duas crianças
que resolvem pregar uma peça desnecessária em seus pais e fugir de casa só pra
variar um pouco, o longa vai muito além disso. O que Anderson nos propõe é uma
reflexão do que todos nós temos vontade de fazer várias vezes na vida: nos
agarrarmos apenas ao que realmente vale a pena e fugirmos, deixando todo esse
mundo insuportavelmente chato e falso para trás. Sam e Suzy representam
qualquer pessoa que tenha esse desejo normal que causa tanto desespero a alguns
indivídos, no caso deles, tornou-se insuportável aguentar seus pais e vidinhas
medíocres e, quando pensam ter encontrado sua cara metade, eles encaram a vida
com tanta maturidade e racionalidade que decidem ser mais prudente ir embora,
casar e ter uma vida mais digna e feliz longe de casa. Acrescente a isso, temos
aqui o melhor do estilo Wes Anderson: ao mesmo tempo o diretor e roteirista
consegue nos trazer um drama bem humorado, criticando fatos da vida que, para
nós, tornaram-se normais, mas que não deveriam ser, digo, uma mãe traindo seu
marido não é uma coisa normal, ser infeliz por que a mulher que ama não se
separa do marido para ficar contigo não é uma coisa aceitável, ser líder de
escoteiros sendo infeliz por que deseja fazer mais para a sociedade é muito
triste, decidir a vida de crianças e resolver o que é melhor para jovens que
não se conhece chega a ser desumano, aceitar que sua mulher o traia e mande
completamente em sua vida é humilhante para qualquer um. Enfim, as vidas de
todos os adultos desse filme são tristes e medíocres, o que torna compreensível
e nada surpreendente a decisão de Sam e Suzy. O filme é indicado ao Oscar de melhor roteiro original.
Bruce Willis simplesmente se transforma
de forma inacreditável para viver o Capitão Sharp, um homem infeliz que define
como uma grande meta encontrar as crianças sumidas, mas mais que isso, sua
personagem se mostra um homem com um coração grande, e é aí que a atuação de
Willis é tão surpreendente: durante todo o filme podemos ter certeza, por suas
feições que ele não é um homem completo, mas também vemos que, de alguma forma,
ele parece compreender o desejo das crianças de escapar do mundo. Edward Norton
é um dos melhores atores de sua geração em real atividade, vê-lo interpretando
esse líder de escoteiros frustrado é ótimo, pelo simples fato de que não se
pode ser um líder de escoteiros e ser um homem plenamente feliz, entretanto, há
mais sobre sua personagem: ele se sente um verdadeiro pai ou irmão mais velho
para os jovens que frequentam seu acampamento, enfim, sente que é um exemplo de
liderança, perseverança e personalidade a ser seguido. Bill Murray é o pai de
Suzy, aquele tal homem traído pela esposa que chega a nos irritar por se
humilhar para a mulher durante todo o filme, Murray é o perfeito retrato de um
homem bem sucedido profissionalmente que não consegue se desvencilhar da
mulher, ou seja, ele é o perfeito retrato masculino dependente, em todos os
aspectos, da esposa. Frances McDormand é a esposa traíra, uma mulher confusa
que não sabe muito bem o que quer da vida, que está sem rumo e não sabe para
onde ir, mas que parece querer manter a sobriedade e não deixar que suas
dúvidas transpareçam para o restante do mundo. Tilda Swinton faz a vez do
desumano no filme, é ela a responsável pelo Serviço Social que cuida dos
órfãos, basta apontar que a mulher não possui nome, sendo chamada de “Social
Services” durante a trama para se ter uma idéia do quanto ela pode ser
terrível.
Mas o filme não pé feito, realmente,
pelos adultos, e sim pelos jovens Jared Gilman e Kara Hayward, respectivamente,
o casal Sam e Suzy. Gilman é um verdadeiro desbravador, um jovem que, de fato,
acredita em sua maturidade e acha possível colocar o amor de sua vida nos
braços e sair mundo a fora para ser feliz; Hayward é simples e, muitas vezes um
pouco seca, atribuindo uma personalidade totalmente racionalista a sua
personagem, ela, por sua vez, acredita na idéia de encontra um príncipe em um
cavalo branco e ser feliz com ele, onde quer que seja, da forma que seja, na
alegria e na tristeza, na saúde e na doença, etc. E talvez seja nessa esperança
de felicidade, nessa suposta inocência de Sam e Suzy, na não confirmação do
quanto essa história é ou não uma realidade que está a essência desse filme, é
nesse contexto que Wes Anderson confirma sua genialidade, pois consegue transformar
o que podia ser uma obra de deboche em algo reflexivo e próximo de cada ser
humano pensante que assistir e refletir esse filme.
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