sábado, 23 de fevereiro de 2013

101. (ESPECIAL OSCAR 2013) TED, de Seth MacFarlane


Desrespeitando todos os costumes, o filme mais irreverentemente agradável do ano.
Nota: 8,7


Título Original: Ted
Direção: Seth MacFarlane
Elenco: Mark Wahlberg, Mila Kunis, Seth MacFarlane, Bretton Manley, Joel McHale, Giovanni Ribisi, Patrick Warburton, Matt Walsh, Aedin Mincks, Bill Smitrovich, Patrick Stewart, Norah Jones, Sam J. Jones, Tom Skerritt
Produção: Jason Clark, John Jacobs, Seth MacFarlane, Scott Stuber
Roteiro: Seth MacFarlane, Alec Sulkin e Wellesley Wild

Ano: 2012
Duração: 106 min.
Gênero: Comédia / Drama / Fantasia

Quando jovem, John Bennett não tinha nenhum amigo e era filho único, sendo assim, quando ganhou um pequeno e tradicional ursinho de pelúcia no dia de Natal, pediu a Deus que Ted pudesse conversar com ele e ser seu melhor amigo para todo o sempre. Inacreditavelmente, o pedido foi atendido e John acordou com Ted falando, o urso tornou-se famoso, deu entrevistas, teve fãs, mas, como tudo o que é bom dura pouco – ainda mais para celebridades instantâneas -, John cresceu e Ted ficou esquecido pelo povo, entretanto, a amizade dos dois permaneceu, fazendo com que John apenas crescesse, e continuasse uma criança. Todavia, Bennett já passou dos trinta e precisa tomar tenência para não perder seu emprego e deixar a mulher de sua vida escapar-lhe pelos dedos, ao mesmo tempo em que precisa permanecer ao lado de seu eterno melhor amigo, Ted.


Não gosto da maior parte das interpretações de Mark Wahlberg, não acreditava no potencial de Seth MacFarlane para dirigir, roteirizar, produzir e dublar qualquer filme e não acreditava que um longa onde um homem que já passou dos trinta anos possui um urso que fala pudesse dar certo. Eu estava errado. Por um simples fato: tudo o que imaginei que seria esse filme estava errado, e foi por isso que não medi espaço para o parágrafo anterior e expliquei exatamente o que aconteceu. Antes de ler algo relevante sobre o longa, achava que o filme era sobre um homem de mais de trinta anos que ainda tinha aquela mania estranha de falar com seus bichinhos de pelúcia, mas muito pelo contrário, Ted realmente fala, e como fala. Além disso, o urso “cresceu” assim como John, e tornou-se um ser tão repugnante quanto se possa imagina. Lembro-me de quando o filme foi lançado ouvir as pessoas comentarem o quão terrível era aquele ursinho fumando maconha, no entanto, existem centenas de coisas muito piores que esse ser pode fazer, e fumar maconha é apenas a mais básica delas. Ted dirigi carros sem nem enxergar a rua direito, Ted consome bebidas alcoólicas loucamente, Ted contrata prostitutas que defecam no chão, Ted fala palavrões a torto e direito, Ted faz gestos obscenos para qualquer pessoa que vê na rua, Ted faz sexo em seu local de trabalho, Ted chama John para fumar maconha e assistir a programas de TV quando John deveria estar trabalhando, Ted inventou uma musiquinha ridícula para quando ele e John ficam com medo da chuva. Enfim, Ted faz tudo o que nossos pais nos mandam não fazer, e mais um pouco. Ted faria até mesmo Dercy Gonçalves se sentir uma santa. Nesse contexto, podemos absorver centenas de coisas durante o filme, mas a principal delas é bem básica: Ted representa, da forma mais filosófica possível, a ruptura dos padrões sócias pré-estabelecidos por nossos antepassados, e o faz de forma tão única que torna esse filme algo sensacional. A canção “Everybody Needs a Best Friend” está indicada ao Oscar de melhor canção original, e, para mim, apesar de adorar “Skyfall”, de Adele, é a que mais se encaixa no filme entre as indicadas.


Como disse anteriormente, Mark Wahlberg está surpreendente como John, isso, por que, é dele a responsabilidade de humanizar as atitudes de Ted, ou seja, John, ao contrário do urso, precisa, digo, necessita, impresindivelmente de um emprego, precisa trabalhar e ganhar dinheiro, e é aí que está o trunfo do ator: o personagem tenta, mas a tentação de estar ao lado de seu melhor amigo e permanecer em casa bebendo, fumando e vadiando é muito maior que a vontade de trabalhar e ganhar a vida, Wahlberg está tão bem exatamente por isso, em alguns momentos é um homem feito, que sabe da necessidade de ser alguém na vida, bem como em segundos depois volta a ter a feição confusa e infantil e se torna o menino com o ursinho de pelúcia novamente. MacFarlene é a voz de Ted, sobre ele apenas podemos dizer que faz Ted parecer ainda mais engraçado e idiota, nada além. Mila Kunis é Lori, a namorada de John, como era de se esperar, Kunis está muito bem no papel, que, aliás não tem nada de mais e acaba sendo apenas a parte feminina da história: uma mulher decidida, apaixonada e com grandes perspectivas para o futuro, as mulheres não podiam estar melhor representadas. A parte chata e, por vezes, ruim do filme fica a cargo de Joel McHale – o chefe de Lori – e da dupla composta por Giovanni Ribisi e Aedin Mincks – pai e filho que desejam comprar/roubar Ted -, apesar das interpretações ruins, suas personagens são o que há de mais debochado no filme, nos remetendo aos grandes filmes de Hollywood que tem como enredo o sequestro de qualquer personagem estúpido o abuso nojento de poder.


Ted representa tudo o que os seres humanos desejavam fazer um dia, Ted representa um desabafo social de todos os seres humanos, que gostariam de jogar tudo para o alto e viver uma vida cheia de emoções bem diferentes das encontradas no abismo da rotina, no qual todos acabamos caindo um dia. John representa a maior parcela de seres humanos do sexo masculino no mundo: eles (nós) poucas vezes passam dos quinze anos de idade, permanecendo naquela faixa etária terrível onde os hormônios estão a flor da pele e a luxúria por descobrir coisas novas é inevitável. Lori é a parte mais séria, o que prova que homens só se tornam verdadeiros homens, deixando de serem garotos, a partir do momento em que encontram com uma mulher disposta a fazer aparecer o tal homem. O filme em si se torna algo tão engraçado e irônico que mesmo seus momentos sérios parecem debochar do que a sociedade acredita ser triste ou deprimente – a exemplo o sequestro de Ted e a tentativa de sair do emprego que conseguiu, ao invés de permanecer no mesmo. E é aí que o filme acerta em cheio: não há padrões a serem seguidos, e mesmo o que pode parecer real e que tenha uma conotação séria se torna algo divertido, sendo assim, o filme foge tanto dos padrões dramáticos, quanto dos padrões cômicos, tornando-se um filme único.


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