sábado, 23 de fevereiro de 2013

102. (ESPECIAL OSCAR 2013) ANNA KARENINA, de Joe Wright


Apesar da indiscutível beleza visual, é muito teatral e longo demais ao contar inúmeras histórias diferentes.
Nota: 8,0


Título Original: Anna Karenina
Direção: Joe Wright
Elenco: Keira Knightley, Aaron Taylor-Johnson, Jude Law, Matthew Macfadyen , Kelly Macdonald, Domhnall Gleeson, Ruth Wilson, Alicia Vikander, Olivia Williams, Michelle Dockery, Emily Watson, Holliday Grainger, Sirley Henderson, Bill Skarsgârd, Cara Devingne, Hera Hilmar
Produção: Tim Bevan, Paul Webster, Alexander Dostal, Liza Chasin e Alexandra Ferguson
Roteiro: Tom Stoppard e Leo Tolstoy (romance)
Ano: 2012
Duração: 129 min.
Gênero: Drama

Anna Karenina é uma aristocrata na Rússia no século 19 que está casada com o velho Alexei Karenin, um homem frio que já não dá mais tanta atenção a sua esposa. Dessa forma, Anna acaba se apaixonando perdidamente pelo conquistador Conde Vronsky, apesar de o Conde amá-la tanto quanto ela o ama, Anna precisa decidir se quer permanecer ao lado do filho e de Karenin, ou se quer se aventurar em uma paixão louca com Vronsky, ao mesmo tempo em que isso acontece, o irmão de Anna, Oblonsky, e sua esposa, Dolly, vivem uma crise conjugal por ele estar traindo a esposa. Além disso, Konstantin Levin, amigo de Oblonsky, tenta conquistar o coração de Kitty, amiga de Anna.


Acredito que Joe Wright seja um dos diretores modernos mais preocupados com a estética de seus filmes. Sua carreira no cinema se resume em sete anos (2005 – 2012), cinco filmes – “Orgulho & Preconceito” (2005), “Desejo e Reparação” (2007), “O Solista” (2009), “Hanna” (2011) e “Anna Karenina” – e 15 indicações ao Oscar (todas pelos seus trabalhos ao lado de Keira Knightley, os de 2005, 2007 e “Karenina”). Apesar de achar seus trabalhos, especialmente os com Knightley, muito bons, sendo os únicos que a atriz está realmente bem, esse me decepcionou muito. A idéia de usar um estilo semelhante ao de Federico Fellini em suas grandes obras não caiu bem para esse longa, que poderia ser bem menos teatral e mais real, o que quero dizer é que os filmes de Fellini eram incríveis, mas não possuíam nexo algum, nem suas história malucas, muito menos a forma como o mestre as reproduzia, entretanto, a história de Anna Karenina e toda sua trupe possui detalhes que a tornam totalmente plausível, e talvez seja essa mistura do real (a história de Anna) com o irreal (a forma como foi filmado) que torne o filme algo inferior ao esperado. Além disso, os gestos e feições das personagens são tão caracterizados e perfeitos que tudo parece um imenso espetáculo de balé. Acrescente a isso, as principais atuações do longa são caricatas demais e nenhum ator protagonista consegue segurar as pontas do filme ou trazer a verdadeira essência de seu personagem. Por fim, são muitas histórias em diferentes lugares, com diferentes pessoas para um filme tão diferenciado com tanto tempo de duração.


Se a forma como o longa foi tratado, as atuações de grandes estrelas do cinema e o roteiro misturar tantas histórias são um problema, não posso dizer o mesmo sobre toda a parte artística da produção. O longa está indicado em quatro categorias no Oscar 2013: melhor fotografia para Seamus McGarvey, já indicado por “Desejo e Reparação”, apesar de nessa categoria ser um forte concorrente, lutará contra filmes menos teatrais que possuem fotografias e locais mais abertos, com pouca cor ou que chamam menos a atenção, mas mais leves e reais; melhor figurino para Jacqueline Durran, uma das figurinistas mais experientes do ano, para mim o figurino mais digno de vencer o prêmio, e acredito que vença, até por que levou o prêmio do Sindicato dos Figurinistas, a não ser que seja desbancado pela três vezes vencedora Colleen Atwood, por “Branca de Neve e o Caçador”; melhor direção de arte, para Sarah Greenwood e Katie Spencer, ambas indicadas a quatro Oscars e parceiras de Wright em seus dois primeiros filmes, apesar dos grandes concorrentes, mais uma merecida categoria; por fim, e o mais importante, melhor trilha sonora para Dario Marianelli, a trilha de Marianelli é uma das mais belas e agradáveis dos últimos anos, trazendo características da região onde se passa a história, apesar disso, não me parece totalmente original e o tema principal não me é totalmente estranho, mesmo assim, acredito ser a melhor trilha do ano, apesar de as cinco indicadas serem excelentes. Achei a montagem do filme extremamente simpática e dentro do contexto da proposta teatral do diretor, se fosse escolher tiraria “A Hora Mais Escura” do páreo e daria uma chance a “Anna Karenina”


Como disse acima, apenas Wright para fazer de Knightley uma atriz completa em seus filmes, entretanto, até mesmo ela decepciona muito aqui. Está caricata demais, como todo o resto do elenco, faz caras e bocas desnecessárias o tempo todo e, apesar de gostar muito da atriz, não convence em nenhum momento o sofrimento e as angústias da personagem; como se não bastasse, o roteiro do filme trata Anna como uma mulher cheia de frescuras e muito chata após deixar o marido e ir viver com o amante, parece que ela deseja que todos a compreendam, esquecendo-se da gravidade (no contexto histórico) do que fez. Jude Law parecia estar se tornando um ótimo ator, mas quando o vemos como o velho Alexei perdemos as esperanças de que venha a ser aquele tipo de ator completo que faz filmes e mais filmes com algum grau de perfeição, apesar de frio, dá a sua personagem um ar demasiadamente idiota. Aaron Taylor-Johnson saído de, pasmem infinitas vezes, “Kick-Ass – Quebrando Tudo” (2010) está longe de ser o galã conquistador que seu personagem deveria ser. Os outros dois casais centrais da trama vividos por Matthew Macfadyen e Kelly Macdonald (Oblonsky e Dolly) e Domhnall Gleeson e Alicia Vikander (Konstantin e Kitty) tem, nos homens, o problema, pois eles são fracos demais; e nas mulheres, duas pontinhas rápidas de leveza e naturalidade. Para deixar tudo menos decepcionante Emily Watson e Michelle Dockery estão ótimas como a simples Condessa Lydia e a extravagante Princessa Myagkay, respectivamente.


A história de Anna Karenina, escrita por Leo Tolstoy entre 1875 e 1877, narra, paralelamente, os eventos que acontecem com a protagonista e os que acontecem com Konstantin, um proprietário de terras apaixonado por uma jovem da alta sociedade russa. Nessa adaptação, apesar dos problemas, há a fidelidade em mostrar a beleza de se sacrificar por amor (a ponto de preferir a morte a não poder estar com quem se ama), apesar de tudo isso ser muito exagerado e desnecessário, o longa acaba sendo o mais belo, esteticamente falando, do ano. Mas mais que isso, não é preciso muito para analisar a real vontade de Tolstoy ao escrever essa história, e somente por não se perder a ponto de esquecer esse detalhe impostantíssimo – talvez o mais crucial de toda a adaptação - que é necessário assistir a esse filme: permanecemos com a boa e velha crítica aos costumes exagerados, aos padrões culturais e sociais que foram se desfazendo durante a humanidade, afinal, essa ruptura se faz necessária por um simples motivo, ou ela acontece, ou nos vemos em uma vida cada vez mais controlada, rotineira e, consequentemente, desesperadora, e quem melhor para romper com padrões que não a Sétima Arte?


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