Uma visão sobre a vida moderna como
somente Bernardo Bertolucci poderia apresentar.
Nota: 9,0
Título Original: The Dreamers
Direção: Bernardo Bertolucci
Elenco: Michael Pitt, Louis Garrel, Eva
Green, Anna Chancellor, Robin Renucci, Jean-Pirre Kalfon, Jean-Pierre Léaud,
Florian Cadiou, Pierre Hancisse, Valentin Merlet, Lola People, Ingy Fillion
Produção: Hercules Bellville, John
Bernard, Jeremy Thomas e Peter Watson
Roteiro: Gilbert Adair (romance e
roteiro)
Ano: 2003
Duração: 115 min.
Gênero: Drama / Romance
Matthew é um jovem apaixonado pela
Sétima Arte que, na década de 1960, vai passar um tempo em Paris, na França,
para aprender o idioma local e explorar mais sua paixão. Durante um tempo, o
adolescente permanece meio deslocado e sozinho com seus pensamentos,
entretanto, ao conhecer Theo e Isabelle, dois irmãos, também loucos pelo
cinema, sua vida muda completamente. É com a dupla que Matthew conhece os
maiores prazeres da vida, vive simples emoções e conhece desejos e anseios que
nem sabia serem possíveis em um ser humano.
Na década de 1960, o cinema europeu
vivenciou um de seus maiores auges. Aproveitando o declínio das grandes
produtoras de Hollywood, estúdios como o inglês Pinewood Studios e o italiano
Cinecittà entraram de vez na Sétima Arte para fazer história. Além disso, foi
nessa mesma década que grandes produções foram realizadas, tais como: “Jules e
Jim” (1962) de François Truffaut, “A Doce Vida” (1960) de Federico Fellini,
“007 Contra o Satânico Dr. No” (1962) o início da série de 23 filmes do agente,
“A Fonte da Donzela” (1960) de Ingmar Bergman, “Doutor Jivago” (1965) de David
Lean, “Ontem, Hoje e Amanhã” (1963) de Vittorio de Sica, “A Bela da Tarde”
(1967) de Luis Buñuel, “Flor de Cacto” (1969) de Gene Saks, entre tantos outros.
Foi também na final dos anos 60, mais precisamente em maio de 1968, que os
jovens franceses provocaram a eclosão da Revolução Cultural, que rompeu com os
padrões familiares e dos costumes em toda a Europa, trazendo inovações em todos
os campos das artes. Nesse contexto, é claro que o cinema, sendo a última das
sete artes, foi um dos maiores contribuintes, foi nessa época, também, que
Bertolucci, com quase trinta anos, iniciou como diretor no cinema, e, logo com
a chegada da década de 1970, consagrou-se como um dos diretores mais inovadores
de todos os tempos com o inesquecível longa protagonizado por Maria Schneider e
Marlon Brando, “Último Tango em Paris” (1972). Em “Os Sonhadores”, todo esse
estilo clássico – quando digo “clássico” me refiro ao estilo do próprio diretor
-, volta de forma inacreditável. Aqui sinto a obrigação de fazer uma ressalva:
aos que já assistiram ao filme com Brando, não pensem que verão algo mais
decente e com mais pudor que o que o diretor havia feito há trinta anos antes
desse; aos que nunca assistiram a nada realizado pelo diretor ou não leram ao
livro em que a produção foi baseada, é bom se preparam para um filme forte com
muita nudez e alguns momentos constrangedores - para os conservadores –
envolvendo sexo; aos que leram a obra, as características homossexuais entre os
dois protagonistas é mais disfarçada. A respeito da homossexualidade, é preciso
dizer que Bertolucci não a mostra nem explora de forma aberta, afinal, com
todas as excentricidades presentes em todo o enredo, trazer mais esse tabu
seria algo muito arriscado e pretensioso, acrescente a isso, podemos observar
algumas indiretas em meio a esse “quase triângulo amoroso”, o que não excluí
totalmente a possibilidade de haver uma relação homossexual na trama. Sobre
todos os momentos que envolvem sexo ou nudez – que são vários – é preciso
deixar claro: os irmãos convidam Matthew para passar um mês na casa deles enquanto
os pais viajam, e, convenhamos, é óbvio que quando um adolescente resolve
passar um mês infurnado na casa de dois amigos, sendo um deles uma garota e
sendo, os dois, irmãos gêmeos do tipo inseparáveis que chegam a dormir nus e
juntos, seria inevitável que não se tornasse um festival sexual, entretanto,
tudo isso não é apenas um apelo feito pelo diretor ou pelo roteiro, e sim, uma
referência perfeita de como os jovens da época desejavam mudar tudo o que se
aproximasse aos padrões estéticos ditados pelas sociedades passadas.
Em contra ponto a esse rompimento com os
costumes, os filmes clássicos venerados pelos amantes do cinema estão mais
presentes do que nunca. Sendo assim, vemos várias passagens de alguns deles, vários
pôsters de grandes filmes, diretores e artistas, algumas referências nas falas
ou diálogos e, principalmente, a importância nos momentos em que se faz uma
aposta: adivinha-se o nome de algum filme sendo encenado por um dos jovens, se
a resposta estiver errada, paga-se com algum desafio, uma estilização do
clássico jogo conhecido por todos os jovens no Brasil como “verdade ou
desafio”, mas com mais originalidade e bom gosto. Dentre os longas a que se faz
referência temos:
-
“Bande
à Part” (1964), dirigido por Jean-Luc Godard: o trio de protagonistas revive a
cena em que os protagonistas do filme original tentam quebrar o recorde de
percorrer todo o museu do Louvre em menos de 9 minutos e 43 segundos;
-
“Rainha
Christina” (1933), dirigido por Rouben Mamoulian: Isabelle imita a estrela
Greta Garbo, dizendo “memorizing this room”, referindo-se ao quarto em que
Matthew dorme pela primeira vez na casa dos irmãos;
-
“Mouchett,
a Virgem Possuída” (1967), dirigido por Robert Bresson: enquanto Isabelle tenta
matar os três com gás de cozinha, vemos cenas do suicídio de Mouchette;
-
“O
Picolino” (1935), dirigido por Mark Sandrich: protagonizado por Fred Astaire e
Ginger Rogers – um dos maiores casais que atuaram no cinema -, faz parte de uma
das brincadeiras do “desafio”;
-
“A
Vênus Loira” (1932), dirigida por Josef Von Sternberg: em mais um desafio,
Isabelle relembra uma das cenas do filme protagonizado por Marlene Dietrich, o
problema é que Theo perde o desafio, e o que é exigido por Isabelle não é nada
agradável;
-
“Scarface”
(1932), dirigido por Howard Hawks e Richad Rosson: dessa vez Theo relembra uma
cena de morte e ganha de Isabelle e Matthew e eles são forçados a realizar algo
bem mais estranho do que Isabelle exigiu de Theo;
-
“Juventude
Transviada” (1955), dirigido por Nocholas Ray: um dos maiores filmes da época
no cinema, protagonizado por James Dean e Natalie Wood, Matthew responde a Theo
que seu filme preferido de Ray é “Rebel Without a Cause”;
-
Além
disso, os longas “O Homem das Novidades” (1928), dirigido por Edward Sedgwick,
e “Luzes da Cidade” (1931), um clássico dirigido por Charlie Chaplin: Theo e
Matthew discutem sobre quais dos protagonistas dos longas eram melhores
comediantes: Theo ficava com Chaplin, protagonista do próprio longa, e Matthew
preferia Buster Keaton, protagonista do filme de Sedgwick.
A série de televisão “Dawson’s Creek”
(1998 – 2003) trouxe uma porção de novos talentos para a televisão e o cinema
mundial. Um deles foi o ator Michael Pitt, conhecido por sua grande
participação na premiada “Boardwalk Empire” (2010 – 2011), onde foi dirigido e
produzido por Martin Scorsese. Como Matthew, Michael apresenta um jovem
realmente apaixonado por cinema que encontra em Paris uma cidade que pode
entender sua paixão, todavia, quando o personagem encontra com os novos amigos,
Pitt demonstra como um garoto sem nenhuma inocência pode se surpreender quando
chega a um lugar desconhecido e encontra duas pessoas tão excêntricas e
dispostas a mudar todo o mundo para serem felizes. A outra parte masculina do
longa, Theo, é vivido por Louis Garrel, apesar de o intérprete não ser
conhecido e ter tido pouco experiência antes dessa produção, sua atuação é tão
significativa quanto a de Pitt, se não mais que a do protagonista, pois as
confusões que a personagem enfrenta sem saber qual a dimensão do amor que sente
pela irmã e quais seus reais sentimentos quanto ao novo amigo fazem de seu
personagem um enigma que vai sendo desvendado durante a trama. Os dois atores
seguram bem a idéia de deixar no ar a suposta homossexualidade entre eles. Esse
foi o primeiro filme de Eva Green, intérprete de Isabelle, após esse, a atriz
fez, no mínimo, mais cinco filmes de sucesso nos cinema, incluindo o recente
“Sombras da Noite” (2012), sua personagem, bem como a de Garrel, possui
perguntas sem respostas, assim como nos faz questionar centenas de coisas,
talvez essa seja a melhor interpretação da atriz em toda sua carreira, pois é
nesse papel que atinge a naturalidade e a inocência necessária para viver essa
jovem. Curiosamente, os três atores encaram a nudez – que inclui detalhes de
seus órgãos sexuais e um contato um pouco exagerado entre seus corpos – de
forma muito normal e não se envergonham com seus corpos.
No final das contas, como já apontei, o
filme pode ser visto sobre dois aspectos: aqueles que não estão familiarizados
com Bertolucci, que verão no longa um grande festival de sacanagem sem sentido,
e nos que já viram alguma coisa do diretor, que analisarão o filme sobre um
aspecto mais crítico, e verão que a produção não passa de uma crítica sobre o
mundo perfeito e cheio de esteticidade de ontem, uma reflexão sobre o mundo da
década de 1970 (final da de 1960), onde os jovens estavam com os hormônios a
flor da pele e se adequavam ao padrão que fugia dos padrões, a era “sexo,
drogas e rock’n roll” – que, obviamente, atingiu o cinema em cheio, trazendo
grandes nomes como Martin Scorsese, Francis Ford Coppola, George Lucas, Robert
Altman, e Steven Spielberg, o que pode
ser conferido mais a fundo no livro de Peter Biskind, “Como a Geração Sexo,
Drogas e Rock’n Roll salvou Hollywood”. Nesse contexto, o filme se torna uma
reflexão de como somos alienados, de como desejamos coisas que não são
necessárias, como nos tornamos dependentes de uma indústria que deseja mais
vender do que realizar coisas de qualidade, uma reflexão sobre como o mundo
era, como deveria ser e como acabou se tornando. Uma análise sobre o mundo de
hoje sob o olhar de ninguém mais, ninguém menos que o grande mestre da sétima
arte Bernardo Bertolucci.
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Um filme cativante. Os Sonhadores é uma história interessante e cativante amor diretamente ligada ao contexto político-cultural aconteceu na primavera de '68 tumultos na cidade de Paris, capturando perfeitamente cenários e ambientes. Uma fita sedutor, com um grande elenco sobre todos os atores de cinema Eva Green (Isabelle) e Louis Gardel (Theo), surpreso com a simplicidade e graça encarnado quando alguns personagens e complexo coloridas, como Michael Pitt, que, completando o trio, e ao abrigo de um apático, alucinado enquanto aparentemente atira trabalho com interpretação meticuloso, embora às vezes um pouco inútil. No geral, é um drama de amor cheio de ideais e descobertas que adora o cinema.
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