segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

107. (ESPECIAL OSCAR 2013) AS SESSÕES, de Ben Lewin


Uma lição de vida tocante e exemplar.
Nota: 9,0


Título Original: The Sessions
Direção: Ben Levin
Elenco: John Hawkes, Helen Hunt, William H. Macy, Moon Bloodgood, Annika Marks, Adam Arkin, Rhea Perlman, Rpbin Weigert, Blake Lindsley, W. Earl Brown, Ming Lo, Rusty Schwimmer, Jennifer Kumiyama
Produção:
Roteiro: Ben Lewin e Mark O’Brien (artigo)
Ano: 2012
Duração: 95 min
Gênero: Drama / Romance

O poeta, escritor e advogado para deficientes Mark O’Brien nasceu em 1949, aos seis anos contraiu poliomielite e passou o resto de sua vida paralisado, mexendo apenas sua cabeça e sendo necessário um pulmão de ferro para auxiliar na sua respiração. Em 1983, O’Brien entrevistou alguns deficientes físicos para fazer um artigo que abordasse a prática sexual nessa parcela da população. Nesse contexto, Mark, que ainda era virgem, resolveu procurar uma “substituta sexual”, o que provocou a publicação do artigo “On Seeing a Sex Surrogate”. Ele e a substituta tornaram-se grandes amigos, Mark conheceu a mulher de sua vida, com quem foi casado, e morreu em 1999, dias antes de completar inacreditáveis cinquenta anos de vida.


No longa, Mark é convidado para fazer o tal artigo sobre a prática sexual dos deficientes físicos e acaba sentindo certa necessidade em iniciar sua vida sexual. Sem muitas opções ele começa a ficar confuso e encontra no padre Brendan um homem com quem conversar sobre isso. Brendan por sua vez, indica uma terapeuta sexual a Mark, ela, ao ver toda a situação do poeta, indica a substituta sexual Cheryl, que inicia uma terapia com exercícios de consciência corporal. Em outras palavras, Cheryl inicia Mark sexualmente de forma lenta e gradual, sem exageros e com toda a delicadeza possível. Enquanto isso, Mark continua escrevendo, tirando suas dúvidas com Brendan e com sua ajudante e se empolgando cada vez mais em viver sua vida.


Logo de início, o longa parece apenas mais uma boa produção sobre o que a indústria do entretenimento mais tem falado nos últimos anos: sexo. Entretanto, com o desenrolar da trama percebemos que se trata de algo muito maior que isso, estamos diante de uma produção original que consegue falar sobre sexo como uma prática normal na vida de todos, pois os personagens – em sua maioria – tratam tal assunto sem prejulgar ninguém, ou seja, encara-se o sexo como algo necessário, divertido e que deve ser prazeroso a todos. Além disso, o filme acerta, mais uma vez, em mostrar problemas reais de pessoas poucas vezes destacadas no cinema: o sexo para deficientes físicos. Sempre vemos essa parcela da população em filmes ou muito dramáticos, onde são tratados como seres inferiores ou onde se destacam suas necessidades, ou filmes cômicos, onde são apenas mais uns em grandes grupos de pessoas que não possuem deficiência alguma. Aqui, Mark é um tetraplégico que ainda sente todas as terminações nervosas de seu pescoço para baixo, todavia, não possui controle sobre nada, sendo impossível mover-se ou controlar uma ereção, por exemplo. Acrescente a isso, temos a dúvida sobre o real trabalho de Cheryl, afinal, não é todo dia que cruzamos com uma “substituta sexual” que, como a própria personagem esclarece, não são profissionais do sexo, e é aí que temos mais um trunfo, pois Cheryl faz sexo por dinheiro, no entanto, sua forma de realizar o ato é bem diferencia, tornando-se nítido que ela não está preocupada apenas com o fazer sexo, e sim trazer o real prazer que seu paciente merece – vejam que chego a utilizar a palavra paciente, e não cliente, o que mostra o quanto acabamos respeitando o que Cheryl faz, por um simples motivo: a paciência e a forma como ela se doa para Mark é bela e chega a ser louvável. Ainda devo apontar o quanto o protagonista se sente bem seguindo os preceitos religiosos ditados pelo catolicismo, chegando a pedir a benção do padre para que possa procurar por Cheryl e pagar a ela para ter prazer sexual.


John Hawkes já era um ator de renome quando atuou no independente “Inverno da Alma” (2010), pelo qual foi indicado ao Oscar de melhor ator coadjuvante, dali por diante foram quinze trabalhos até agora – dentre séries, filmes e curtas -, nesse contexto, quando digo que é uma satisfação assistir a sua grande interpretação como Mark, é por que não entendo qual o motivo para não ter sido indicado ao Oscar de melhor ator principal, pois cada detalhe do personagem é perfeito, desde a caracterização e as mudanças físicas até as feições de felicidade, desespero e orgasmo. Helen Hunt, indicada ao Oscar de melhor atriz coadjuvante pelo papel, merecia, bem como Hawkes, estar na categoria de atriz principal, pois seu trabalho acaba sendo tão intenso quanto o do protagonista, afinal, não é qualquer mulher com 49 anos que consegue ser tão natural ao apresentar uma personagem que tem como profissão ser uma “subtituta-terapeuta sexual”, como se não bastasse, as cenas de nu frontal de Hunt são inúmeras – que fique claro, é por sua naturalidade e simplicidade, ou seja, pelo seus momentos nada exagerados, que Hunt merecia uma indicação ao Oscar, não por aparecer nua dezenas de vezes no filme. Ao lado da dupla, ou melhor, ao lado de Hawkes, está William H. Macy, conhecido por seu excêntrico papel em “Fargo” (1996), que interpreta o padre Brendan, e é essa grande diferença com alguns de seus papéis anteriores que dá vida a sua atuação: assim como Hunt, Macy nos apresenta algo simples, mas original e muito natural, vivendo um simples padre que tenta entender tudo o que se passa na cabeça de seu amigo e fiel, além disso, as feições curiosas, mas desconfiadas de Macy dão ao padre Brendan uma humanização inexplicável.


No final das contas, “As Sessões” está muito longe de ser um filme apelativo sobre a prática sexual dos deficientes físicos, e se torna uma reflexão poderosa sobre o que vale a pena na vida, sobre como devemos nos entregar aos nossos desejos e sonhos, sobre como não devemos desistir de nada apenas por que algumas pessoas acreditam que não podemos, uma reflexão e uma auto-ajuda sobre como devemos seguir em frente, afinal, assim como Mark teve seus pais que abdicaram de tudo na vida por ele, nós devemos nos agarrar aqueles que nos fortalecem e nos estimulam a seguirmos em frente, mesmo que todo o resto das pessoas a nossa volta esteja contra nós ou tentado nos fazer mudar de idéia. E se, ainda assim, após assistir a esse filme e não se convencer de que tudo pode ser pior ou de que a vida vale muito a pena, leia e reflita, o quanto possível sobre um dos mais belos poemas de Mark O’Brian:
Love Poem for No One in Particular
By Mark O’Brian
“Let me touch ou with my words
Fot my hands lie limp as empty gloves
Let my words stroke tour hair
Slide down your back and tickle your belly
For my hands, light and free-flying as bricks
Ignore my wishes and stubbornly refuse to carry out my quietest desires
Let my words enter your mind, bearing torches
Admit them willingly into your being
So they may cress you gently within”

Aos interessados em ler, também, a matéria de O’Brian sobre sua experiência nada comum, “On Seeing a Sex Surrogate” (traduzida ao pé da letra como “encontrando uma substituta sexual”), disponibilizo o link (a matéria está em sua língua original, inglesa):


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