O Satã não podia ser melhor!
Nota: 9,0
Título Original: The Devil’s Advocate
Direção: Taylor Hackford
Elenco: Keanu Reeves, Al Pacino,
Charlize Theron, Jeffrey Jones, Judith Ivey, Connie Nielsen, Craig T. Nelson,
Tamaa Tunie, Debra Monk, Vyto Ruginis
Produção: Anne Kopelson, Arnold Kopelson, Arnon Milchan
Roteiro: Jonathan Lemkin, Tony Gilroy e Andrew Neiderman (romance)
Ano: 1997
Duração: 144 min.
Gênero: Thriller / Drama
Kevin Lomax é o melhor advogado da Flórida
no momento, nunca perdeu uma causa e vive uma ótima vida ao lado de sua esposa
Mary Ann Lomax. Quando Kevin livra um estuprador da cadeia, surpreendentemente
é convidado pelo representante do poderoso John Milton para ir para Nova York.
Ao chegar lá, Kevin e Mary Ann encontram uma vida melhor que o esperado, cheia
de mordomias e riquezas. Entretanto, enquanto ela começa a desconfiar de tanta
perfeição, Kevin se enreda cada vez mais nas mentiras e tramóias de Milton, as
quais o levam para um caminho, aparentemente, sem volta.
Não é preciso começar a assistir ao
filme, muito menos chegar até seu desfecho, para perceber que John Milton -
aqui interpretado por Al Pacino – é o Diabo em pessoa, aparentemente, algo que
somente será descoberto no fim do filme, o homem não está possuído pela alma do
Satã, ele é, literalmente, o Demônio em pessoa. Durante a trama, apesar de o
enredo parecer mostrar outras coisas, o Diabo é apenas a representação dos
pecados, do medo, da dúvida e dos receios que enredam os seres humanos e os
fazem cair em desespero. Nesse contexto, Milton pode até fazer parecer que ele
é uma espécie de vilão, mas, analisando tudo mais a fundo, percebemos o quanto
o personagem pode enlouquecer as pessoas e controlá-las, tal qual, como já
disse, o medo, a dúvida, os pecados, etc. O vencedor do Oscar e diretor do
longa “Ray” (2004), Taylor Hackford é quem lidera essa produção excelente, mas,
obviamente, não é apenas o seu ótimo trabalho que torna esse filme algo tão,
absurdamente, agradável. Andrzej Bartkowiak é o diretor de uma fotografia bela,
apesar de o longa acontecer todo em ambiente urbano. Além disso, James Newton
Howard – indicado ao Oscar oito vezes por longas como: “O Fugitivo” (1993), “O
Casamento do Meu Melhor Amigo” (1997) e “Conduta de Risco” (2007) – é o
compositor de uma trilha sonora rica e, como de costume, extremamente propícia
para cada cena ou personagem do longa.
Keanu Reeves é aquele tipo de ator
imprevisível, que está péssimo em alguns filmes e ótimos em outros, sem meio
termo. Aqui, graças ao excelente roteiro, ou ao personagem incrível ou ao
restante do elenco ser ótimo, Reeves está nesse segundo grupo de atuações: o
das ótimas. Como Kevin, Reeves nos proporciona um jovem advogado louco para
crescer profissionalmente, mas que se vê confuso ao perder a esposa para a
suposta loucura e analisar como deixou tantos criminosos livres durante tanto
tampo. Charlize Theron nunca foi uma atriz incrível, mas também nunca
decepciona em seus filmes, aqui ela é uma Mary Ann simpática, iludida com o
mundo dos ricos e bem pervertida, que não liga para saber quem são os culpados,
apenas deseja que o marido faça seu trabalho e ganhe dinheiro; nos momentos de
loucura ela se mostra uma pessoa totalmente perturbada, com medo de tudo o que
possa a estar rodeando. Dentre todo o resto do grande elenco do filme, não há
mais ninguém que mereça grande destaque que não seja o incrível Al Pacino. Um
dos maiores mestres da atuação do cinema moderno, Pacino não poderia
decepcionar em um papel tão sarcástico e debochado, não aprece que qualquer
coisa perturbe o ator durante o longa por ele estar interpretando um ser tão
avesso ao que as pessoas depositam sua fé; ao encarar John Milton, Pacino nos
traz mais uma de suas grandes atuações, depravado, determinado e com a luxúria
e a vaidade acima de qualquer coisa, ele está, mais uma vez inacreditável.
É sabido que Lúcifer, o anjo caído,
possui diversas facetas – até porque, a palavra, vinda do latim, significa
“portador de luz” -, sendo assim, pode assumir várias formas, apossar-se de
qualquer ser vivo, confundir nossos sentidos, convencer-nos a realizarmos
coisas que nós nem sabíamos que poderíamos fazer. E é bem isso o que esse filme
mostra, mas acaba indo além propondo que nossos atos não são culpa apenas dos
demônios que carregamos dentro de nós, e sim por um conjunto de fatores que
formam a personalidade consumista de todos os seres humanos que nos tornamos
após a aderência dos ideais capitalistas. Acrescente a isso, é falado muito
sobre a vaidade – um dos sete pecados capitais/mortais ditados pela santa
Igreja Católica -, o que pode servir a uma crítica direta aos próprios
envolvidos com esse louco mundo do entretenimento – atores, cantos, produtores,
modelos, jornalistas – que se preocupam o tempo todo com a forma como irão
parecer para o mundo. E é usando essa preocupação que, no filme, o Diabo toma a
consciência dos homens como se eles fossem fantoches, induzindo-os a realizarem
coisas terríveis, pra si e para outras pessoas. Na realidade, a vaidade acaba
sendo, não apenas o pecado mais agradável para o Satã, mas, também o mais
aterrorizante para o restante da humanidade.
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